Boa tarde,
Sou a M. e vou a caminho dos 25 anos...
Sou viciada em ler blogs e perco-me completamente entrando num e noutro e lendo tudo o que me chama à atenção.Sou apaixonada por psicologia, área que gostaria de ter seguido mas que nao tive oportunidade e o meu pensamento nos ultimos meses é o seguinte: que do nada chuvesse dinheiro para poder frequentar um psicologo! Licenciei-me a 250km de casa e aos 21 voltei pra minha terra, onde trabalho até aos dias de hoje.
A 250km ficaram os amigos e o namorado, relaçao que mantenho até aos dias de hoje sendo os fins de semana os dias que temos para nós! Moro com a minha mae, o meu irmao, a minha avó reformada e o meu avô acamado devido a uma demência mental. Os meus pais separaram-se quando ainda terminava a licenciatura, razao pela qual moramos com os meus avôs desde então.
O meu irmao tem 16 anos e de há 3 anos para cá, desde que moramos com os meus avôs, tem tido um comportamente desviante. Começou por desaparecer em casa 3€, depois 5€, depois 10€, depois 60€ e a culpa nunca era de ninguém. Era da avó que poderia estar esquecida, ou do avô que estava maluquinho, segundo alguns. Depois fui chamada a uma loja para ir buscar o meu irmao, devido ao furto de uma peça de roupa. Não foi muito o meu espanto, eu ja suspeitava que o dinheiro que ia desaparecendo eram graças a ele. Depois foi o cartão MB do avô que desapareceu e junto com o qual estava o codigo e entao varios levantamentos foram feitos. Coitado, o avô era mais uma vez maluquinho e até tinha dado o cartao a alguem num acto de loucura. Cancelou-se o cartão. A peça de roupa furtada era a unica coisa com factos e argumentos que eu tinha, entao cheguei a casa e confrontei a minha mãe e disse lhe mesmo que se algo nao fosse feito ele iria fazer coisas piores e colocar lhe um travao nao seria facil. Nenhum castigo lhe foi dado. Nada de nada... O computador continua, a internet permanece, a falta de regras é uma constante, as faltas na escola sao um acontecimento que aumenta de dia para dia, a ausencia de testes para assinar sao pao nosso de cada dia, levantar um prato da mesa é coisa desconhecida, e como isto milhentas coisas.
Não me consigo calar perante tudo isto e portanto dou sermoes, dou liçoes de moral, dou conselhos, dou berros...faço o que qualquer mae deveria fazer, tirando a parte dos castigos e regras, pois isso nao tenho auteridade para tal. Tudo tem vindo a piorar a cada dia que passa, ao ponte de ouro familiar ser furtado e ter como retorno mais de 5mil euros...todos gastos em roupa e coisas carissimas... Mais uma vez descobri eu o acontecimento e mais uma vez tudo permaneceu igual. O acto decorreu segunda vez e mais uma vez apanhei, mas desta em flagrante... Nada feito, nem um unico castigo!
Sou acusada de criar mau ambiente em casa, por parte da minha mae, pois estou sempre a dar sermoes e a chamar a atençao constantemente. Sou acusada de ter a mania da preseguiçao e de nao me meter na minha propria vida, pelo meu irmao. E quando o mesmo diz isto aos berros so posso mesmo calar-me, visto que ninguem me defende ou dá razao!
A minha relaçao com o meu namorado está a ser afectada, visto que ele passa os fins de semana em minha casa...o ambiente é pesado, as discussoes surgem e as más caras para mim sao uma constante.
Permaneço naquela casa porque divido as contas com a minha avó e porque ajudo a cuidar diariamente do meu avô acamado. E pesa-me muito na consciência largar isso para ir viver a minha vida em paz. Ponderei varias vezes sair, mas nunca o fiz, pois pesa-me a consciencia por so estar a pensar em mim, nao sei. E além disso estou cá sozinha.
O namorado e amigos estão longe, iria entao passar 5 dias por semana sozinha, outro facto que me coloca um travão. Por outro lado passo os dias nervosa, sem vontade de ir pra casa, com dores de barriga porque vou chegar a casa e vai estar tudo amuado e a queixar se da vida!
Entretanto o meu irmao vai inicializar consultas com um psicologo, ao qual a minha mae ja foi chamada e de seguida eu. O psicologo falou muito abertamente comigo e disse que pouco poderia fazer pelo meu irmao se em casa nao fossem postas regras, disse-me que sou muito consciente com este problema e que a minha mae deveria ouvir-me e seguir os meus conselhos, caso contrario o meu irmao irá por um caminho muito perigoso ao longo da vida dele.
Posto isto tenho umas questões que me atormentam dia e noite:Que faço à minha vida, saiu ou fico?Se fico como reago? Se quiser pode publicar, pois das pessoas que conheço e sabem desta historia, nenhuma lê blogs! Um beijinho grande e quero so dizer que o facto de ter escrito isto tudo, ja me aliviou bastante! *O que fazer ao meu irmao e à minha mãe?
M.,
Antes de mais obrigada por me ter escrito e pela confiança que depositou em mim ao falar-me sobre essa situação. A maioria das pessoas que escreve para blogues expõe situações do foro sentimental e é bom uma variação. Não é que eu não goste de responder a essas, mas, acaba por ser redutor estar a responder sempre ao mesmo. E este seu email é uma lufada de ar fresco.
Quanto à situação em concreto, concordo em tudo com o que o psicólogo disse. São absolutamente necessárias regras e consequências que sejam aplicadas sempre que o seu irmão as infrinja. E isto não é uma questão de querer castigar, mas antes uma forma de lhe mostrar o que o mundo lhe vai oferecer quando ele for autónomo e tiver que trabalhar para se sustentar. A cada comportamento vão seguir-se consequências que serão boas ou más conforme o seja o comportamento. E isso tem de mimetizado em casa como forma de o preparar para a vida. Sempre mas sobretudo numa altura problemática como esta. E enquanto isto não for feito o comportamento desviante do seu irmão vai continuar em crescendo. Com as possíveis consequências que isso pode trazer. Com 16 anos ele não pode ser preso mas já pode ser responsabilizado criminalmente e enviado para unidades terapêuticas. A sua mãe deve saber isto e deve questioná-la se é isto que ela pretende.
O que eu acho relativamente a ela é que está em negação. Muitas vezes é mais fácil fingir que não vemos o que está mesmo à nossa frente do que admitirmos que nos magoa. E a ela magoa-a porque ela sente que falhou. Ela no fundo sabe o que se passa mas não quer admitir que sabe como se isso evitasse que a situação fosse real. Entende o que estou a querer dizer? Enquanto ela não tomar atitudes e fingir que está tudo bem é como se as coisas que acontecem realmente não estivessem a acontecer. E eu arriscaria dizer que isto acontece porque ela ao olhar para o seu irmão provavelmente sente que falhou como mãe e isso afecta a auto-estima dela. Não tem que ser assim. Ela não tem que ter falhado como mãe. Existem muitas causas que podem levar a uma determinada consequência. Mas está claramente a falhar agora, ainda que sem ter noção disso, ao ignorar um problema que existe e vai crescer se nada for feito, e ainda mais ao virar-se contra si. Mas também isto é normal e não pense que é por gostar mais do seu irmão do que de di. Ela no fundo sabe que a M. tem razão. Mas neste momento é a M. quem a está a a forçar a abrir os olhos para uma realidade que ela não quer ver. E o mais fácil é mesmo virar-se contra o mensageiro porque assim é como se a notícia não fosse verdadeira. É claro que tudo isto é confuso mas é o que provavelmente estará a acontecer.
O psicólogo tem razão quando diz que pouco conseguirá fazer se em casa não o ajudarem. E a sua mãe tem se saber isto mas creio que ele lho dirá até porque foi bastante honesto neste ponto. Mas ela tem de ser ajudada também a perceber tudo o que isto implica. Quando ela for ao psicóloga acompanhe-a se puder. E a seguir vá lanchar com ela. Mostre interesse em saber como correu a sessão e depois dê-lhe, calmamente, a sua opinião. Tendo em conta tudo o que aqui lhe disse sobre a negação. Mostre sobretudo que o seu grande interesse é ajudar o seu irmão, mas que nem a M. nem o psicólogo sozinhos conseguem. Mas com calma. E sem gritos. Sei bem o quão difícil pode ser manter este tipo de conversa em casa onde o ambiente já está contaminado e por isso lhe sugiro o lanche.
Quanto a si, o meu conselho (e eu não gosto de conselhos nem os psicólogos os dão mas isto não é uma consulta) era que saísse. Não sei deixe contaminar por esse ambiente. Percebo bem que sente que é um pilar fundamental. Mas antes de ser um pilar fundamental para alguém tem de o ser para si. Sob pena de não o ser para ninguém. E pode sempre morar noutra casa mas estar presente. E se calhar estará mais disponível. Não lhe vou dizer para mudar de terra e ir para perto do seu namorado (por acaso apeteceu-me) porque acho que neste momento tem e quer estar perto. Mas digo-lhe para se começar a autonomizar. A M. preciso disso e a sua família preciso disso. Vai ver que a vão valorizar mais quando der o passo.
Espero ter conseguido ajudar alguma coisa.
Beijinhos
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