Existem realidades que, por muitos anos que vivamos, apenas conhecemos quando nos diz respeito. Trabalhar com jovens institucionalizadas é uma delas. Não é fácil.
É diferente de tudo aquilo que possamos imaginar, estar à espera, ouvir. É um mundo completamente à parte. E esse mundo faz-nos constantemente pensar em tanta coisa, pôr tanta coisa em questão, tentar encontrar estratégias diferentes para lidar com o que vai surgindo.
São experiêcias que valem a pena porque nos enriquecem como pessoas, nos ensinam coisas que outra forma não aprendiámos, que nos fazem valorizar tudo aquilo que temos.
Mas não nos podemos iludir. Por mais que queiramos, por mais que tentemos, e por mais que desesperemos há mesmo, e haverá sempre, jovens que não vamos conseguir ajudar. Simplesmente porque elas não querem ser ajudadas. Porque acham que a vida delas é muito boa, que o que interessa é falta às aulas, é experimentar tudo aquilo que acham que é porreiro, é arranjar estratagemos para ter dinheiro para comprar tabaco. São essas as que vibram quando nos conseguem chatear, que acham que quando nos ofendem estão a ganhar o dia, mas que se se esquecem que, nós quando saímos do trabalho voltamos para a nossa vida, aquela que tem coisas que a delas nunca virá a ter.
E eu tenho imensa pena disto. Tenho pena que a maior parte destas miúdas nem sequer se aperceba que podia ter uma vida melhor. Que, dentro do infortúnio que tiveram (e quem somos nós para julgar o que é viver em meios tão desestruturados que existem motivos legais para as retirar à família) houve também sorte: a de vir parar a uma instituição que se preocupa com elas e lhes dá o melhor.
Portanto o meu trabalho tem sido e vai ser muito à volta disto. Tentar partir pedra. E lá no meio dos insultos que vamos ouvindo diariamente tentar fazer algo de bom podia vir a ter.
Gosto? Muito. Mas é preciso ter uma grande capacidade de lidar com s frustração.
admiro-te, a sério... não deve ser nada fácil.
ResponderEliminarFilipa,
ResponderEliminarObrigada mas não há grande coisa para admirar. É um trabalho que só pode fazer quem realmente gosta. Porque não é daquelas coisas que se possa dizer que se vai fazendo. Acontece que é realmente o que eu gosto. E quando se gosta, por mais difícil que possa ser, é mais fácil.
Beijinhos