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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Até uma noite

Conheciam-se há muito, muito, muito tempo. Talvez até há tempo demais, para que, dadas as circunstâncias, nunca tivesse acontecido nada entre eles. Há demasiado tempo para que não conhecessem o sabor do beijo, o calor do toque e a textura da pele um do outro. Desde sempre tinham sido amigos. Muito amigos, grande amigos, os melhores amigos, mas também mais do que amigos, muito mais do que amigos.
Era uma amizade profunda, sincera e absoluta, que se deixava invadir por algo mais. Algo que eles não sabiam bem o quê. Não era uma coisa física, embora, quando estavam juntos, os abraços fossem uma constante. Mas não, não era uma coisa física. Ia muito para além disso. Era muito mais.
Toda a gente à volta deles sabia, sempre soubera. E todos esperavam que um dia eles permitissem que o que existia tomasse conta deles. Mas eles sempre tinham negado. E, apesar de no fundo o desejarem mais do que qualquer outra coisa, também sempre o tinham evitado. Embora não soubessem bem porquê. Pensavam os dois muito no assunto, mas não se atreviam a experimentar. No fundo tinham apenas medo. Do que poderia ir a acontecer depois. E então adiavam a questão na esperança de que o tempo lhes trouxesse a resposta. Só que o que eles não sabiam é que era inevitável que algo acontecesse. E impossível de adiar por muito mais tempo.
Naquela noite tinham combinado ir jantar. Já não se viam há muitos anos, fruto da enorme distância geográfica a que viviam actualmente. E, apesar de ela viver sozinha, tinham escolhido um restaurante bastante movimentado. Como que já a evitar que algo pudesse surgir. Mas, naquela noite, talvez pelas saudades, talvez pela chuva que caía sem parar, batendo nos vidros do restaurante e dando um toque romântico ao ambiente, talvez pelo frio que fazia com que a lareira estivesse acesa, algo foi diferente. Desta vez houve alguma coisa que eles não conseguiram controlar. Agora também já era físico. O desejo sentia-se no ar. Havia tensão, química, electricidade.
E agora? Seriam eles capazes de dar o passo que durante tantos anos tinham, com tanta força, desejado como evitado? Ambos sabiam que dar um passo significava percorrer o caminho todo. Que não poderiam ficar a meio. E que, a partir daí, nada mais iria ser como dantes. Estariam preparados para as consequências? Para a hipótese, já falada entre eles, de surgir algo que fosse para sempre? Ou para a amizade ficar abalada? Seria melhor deixar tudo no plano das hipóteses? Porque se fosse apenas algo que poderia ser, seria sempre perfeito. Seria sempre algo a que se poderiam agarrar quando algo lhes corresse mal. Iriam continuar a percorrer caminhos paralelos, sem se tocar, ou iriam arriscar viver tudo aquilo que tanto queriam viver?
Durante o jantar falaram muito, para tentar escapar àquele clima estranho que se sentia no ar. No entanto um e outro não conseguiam disfarçar a vontade que tinham de ir mais além. De experimentar, de descobrir como poderia ser.
Qual dos dois iria dar o primeiro passo?
Saíram do restaurante lado a lado, muito próximos um dos outro, as mãos a tocarem ao de leve uma na outra quando andavam. E de repente ele agarrou-lhe na mão e continuaram. Antes de chegar ao carro, um abraço apertado. Mas diferente de todos os que já tinham dado até aí. Um abraço de homem e mulher, onde, pela primeira vez, sentiram o corpo um do outro. Ficaram uns minutos assim, sem saber como dar o próximo passo. Até que ela o beijou. Foi um beijo diferente de todos os outros que tinham dado e recebido até aí. Estranho. Inacreditável. Demasiado bom para ser real. Um beijo com sabor a Amor. Puro. Profundo. Verdadeiro.
Depois deste beijo não havia volta atrás. Esquecer era, mais que complicado, impossível. A amizade não tinha ficado abalada, mas o Amor, esse, era agora impossível de disfarçar. Agora, a vontade de estarem e ficarem juntos, já não estava adormecida e era inegável. Porque, durante este beijo, ele, e também ela, tinham tido a certeza de que este era, sem lugar para dúvidas, o Amor de uma vida, e para toda a vida. Que tinha valido a pena todos os anos de "se's".
Agora, por mais difícil que fosse o caminho, iam fazê-lo juntos, de mão dada, ao lado um do outro. Sempre. E para sempre.

6 comentários:

  1. Tu és a rapariga do texto?
    Se sim, parabens! :D

    Beijinhos

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  2. Eu Mesma!,
    Obrigada.
    Bjs

    Jojozinha,
    O texto tem uma parte autobiográfca sim. Mas essa parte não é o desfecho. E duvido que algum dia venha a ser. Digamos que, ainda que inspirado em factos reais, é quase na totalidade ficção.
    Beijinhos

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  3. Muito bonita esta história...
    Bonita demais, para não passar a ser realidade:)

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  4. Eme,

    Tal cmo respondi à Jojozinha, o texto tem factos autobiográficos, mas é, na sua maioria, ficção. Sei que é uma história bonita, mas, por ser ficção, omite muitos factos. Os que me fazem dizer que duvido que algum dia o desfecho venha a ser este. Porque a distância, quando grande e muito longa, às vezes faz as pessoas crescerem em sentidos diferentes. Porque, ainda que haja sentimentos que, embora atenuados, se mantenham vivos, a vida mete-se no meio.

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  5. Caramba!

    Eu vivi isto com uma diferença: conheciamo-nos à 2 dias... E foi... foi! Essa coisa da distância... Quando as pessoas se amam... não há distância que supere isso... Nada é mais poderoso que o Amor... nada aguenta o que o Amor aguenta...

    Negar o Amor devia ser proibido!

    Caramba!

    E vou dormir que são horas!!!!

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