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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sobre a resiliência

"A resiliência é um conceito psicológico proveniente da física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico."

Outro dia estava a ler a activa e deparei-me com uma entrevista do Daniel Oliveira na qual, entre outras coisas, ele dizia que tinha sofrido muito com a morte do avô, mas que não tinha exteriorizado esse sofrimento. E isto é uma coisa que me faz alguma confusão. Existe uma tendência actualmente para escondermos o sofrimento.

E mais do que isso existe uma tendência para se achar que ser resiliente significa ser resistente ao sofrimento. Mas as coisas não são bem assim. Uma pessoa resiliente não é uma pessoa que não sofre. É uma pessoa que sofre, aceita que sofre, se permite viver o sofrimento mas não se deixa paralisar por ele. Uma garrafa de vidro não é resiliente. É verdade que não se deixa deformar quando a apertamos. Mas parte-se em grande resistência quando cai. E uma garra de plástico? Deixa-se apertar entre os nossos dedos, mas volta à forma inicial quando a libertamos da pressão e, muito mais importante, não se parte quando cai ao chão.

E ser resiliente é ter inteligência emocional para saber que os acontecimentos nos afectam. É admitir que temos fragilidades. É saber sofrer. E este saber sofrer é muito pessoal. Ninguém ensina ninguém a sofrer e todos temos a nossa forma. Mas isto é diferente de dizer "não adianta chorar" ou "não podemos mostrar aos outros o nosso sofrimento", "nem vale a pena pensar nisso". Não adianta mas, para muitas pessoas, é profundamente libertador. E se assim for, então, adianta muito chorar. É isso que nos faz viver os acontecimentos e conseguir ultrapassar as coisas, tornando-nos mais fortes, e fazendo-nos crescer.

Temos, aqui na blogosfera, um grande exemplo de alguém resiliente: a querida Me. A maioria de nós sabe que ela passou por algo muito difícil. E nunca se recusou a falar no assunto. Tal como não se recusou a viver o sofrimento que isso lhe causou. Mas não baixou os braços e continuou a ter a atitude que sempre teve perante a vida e as pessoas. E é por isso que hoje consegue falar no assunto com tanta naturalidade. Porque foi resiliente. Porque soube sofrer. Porque soube integrar esse acontecimento na sua vida e seguir em frente.

E eu que, quando passei por um acontecimento que me causou sofrimento, mas que não se pode comprarar com o que ela passou, e que me deixei paralisar (embora tenha agido como devia ter agido) e me esqueci de mim durante o processo, e que na altura tanto estranhei a atitude dela (e ela sabe), hoje, dou-lhe os parabéns e digo, à boca cheia, que aprendi muito com ela.

4 comentários:

  1. Não sei que te diga sobre este tema.
    Sinto que fui durante muito tempo garrafa de vidro que caiu e se partiu e agora transformei-me numa de plástico.

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  2. Um grande beijinho e muito obrigada pelas palavras de hoje e pelas passadas também.darkoug oredat

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  3. É a porcaria da caixa para prevenir spam... :)

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