(Aviso à partida que este texto vai ser grande e que não é uma "resposta" a nenhuma das pessoas que se mostrou a favor das medidas até porque gosto muito dessas pessoas, sobretudo de duas, a Ritititz e a Marianne)
Tenho comentado em quase todos os blogues os textos que têm sido publicados sobre as medidas de austeridade divulgadas pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho na passada quinta-feira. E depois de ver tantos textos e de ter comentado em tantos sítios decidi que tinha também eu de escrever sobre o assunto. Porque não concordo nem com as medidas nem com aquilo que tenho visto escrito.
E porquê é que não concordo?
Antes de qualquer outra coisa, não, o Pedro Passos Colho não é corajoso por estar a tomar estas medidas. Porque estas não são as medidas certas. Estas são as medidas mais fáceis. Mas também aquelas que menos resolvem. E, basta olharmos um bocadinho para trás e lembrarmo-nos que, foi ele próprio, PPC, que chumbou o PEC IV do então primeiro-ministro José Socrátes, por já não se poder pedir mais sacrifícios aos portugueses. Por alegadamente não concordar com este tipo de medidas. Mas, chegado ao poder, não só toma o mesmo tipo de medidas como ainda as torna mais austeras. Portanto, logo aqui temos uma questão fundamental, que é se ele chumbou o PEC IV por não concordar com as medidas ou por querer poder. Mas isso agora não interessa muito.
A situação do país é grave? Muito. São precisas medidas rigorosas, sérias e austeras para tentar dar à volta a crise e fazer a economia voltar a crescer e o país sair do buraco gigante onde está enfiada? Claro que sim. Sem qualquer tipo de dúvida. Mas é com este tipo de medidas que já chegamos? Duvido. Estas medidas são agora necessárias porque o primeiro-ministro não tinha conhecimento do buraco real quando chegou ao poder? Não acredito muito neste argumento. Porquê?
Vamos por partes:
O FMI entrou em Portugal em final de Abril, depois do chumbo do PEC IV e da sequente queda do governo, após uma resistência teimosa, cega e estúpida do engenheiro José Socrátes a esta realidade que todos sabiámos necessária. E aquando da entrada do FMI todas as contas foram vistas e revistas, todos os partidos foram chamados a negociar, e todos responderam à chamada excepto o BE. Por isso todos sabiam exactamente a real situação em que o país estava (excepto talvez o buraco da Madeira que foi descoberto recentemente). Agora, se isso interessava para a campanha, já é outra história. E se isso dá jeito agora para justificar estas medidas também.
Mas isto agora também não interessa muito. Porque o que interessa é que sendo o buraco uma coisa nova ou um dado adquirido, o que interessa é que são necessárias medidas, que o país (e o mundo) está a atravessar uma crise séria, e que é urgente fazer alguma coisa sob pena de entrarmos em bancarrota.
Agora, e isto é que realmente interessa, serão estas medidas as medidas que vão realmente resolver a crise? NÃO. Porque estas medidas não resolvem o que de facto está mal. O estado é demasiado gordo. Existe um sem número de empresas do estado, empresas municipais e gestores público a gastarem balúrdios. E esta seria uma das medidas a tomar para resolver de facto a crise. Fundir organismos, reduzir ordenados, reorganizar as estruturas ao mínimo necessário. Mas isto era muito complicado. Todos sabemos que não é fácil mexer com poder instituído. E para isto sim seria preciso uma grande coragem.
E os bancos? Que tal começarmos por fazer os bancos pagar a crise que eles próprios criaram? Sim, porque esta crise começou no sector financeiro, são eles os responsáveis por ela. Não a deviam eles também pagar? O problema é que nos vivemos numa plutocracia e não numa verdadeira democracia.
Outro problema que temos em Portugal é o da economia paralela. Existe tanto dinheiro a circular diariamente no nosso país que não é declarado. Tanto! E com estas medidas esta economia paralela apenas vai aumentar. Tentar resolver isto seria sim uma medida interessante. Tentar perceber porque é que as pessoas fogem tanto ao fisco. E dar-lhes incentivos para que declarassem o que ganham. Uma medida que iria ajudar a resolver a crise. Não sei muito bem como isto poderia ser feito, mas, por exemplo alargar as coisas que pudessem ser declaradas no IRS parece-me uma ideia. Claro que depois nem tudo poderia ser compensado aos contribuintes, nem seria esse o objectivo, mas o facto de poder ser declarado ia contribuir para que todos passássemos a ter o hábito de pedir factura dos serviços dos quais usufruíssemos.
(E isto porque o que era realmente necessário era uma mudança de mentalidade. Era terminar com a ideia corrente em Portugal de que o que interessa é cada um safar-se a si e não querer saber dos outros. Todos devíamos perceber que não é "desde que eu esteja bem quero lá saber dos outros" mas "se o país estiver bem todos estaremos melhor".)
Voltando às medidas, o que eles vão fazer, e isto falando na globalidade, é paralisar ainda mais a economia. Não havendo poder de compra a economia estagna. E por isso é que eu não acredito que estas medidas sejam apenas para os próximos dois anos. Seriam ser ao mesmo tempo conseguíssemos fazer a economia crescer. Mas não é isso que vai acontecer.
Quanto aos subsídios a medida não me choca. Tenho noção que na maior parte dos países da Europa não tem subsídios e os que têm têm apenas um deles. Por isso percebo que tenha de haver cortes a nível. Há quem diga que o único verdadeiro subsídio é o de Natal, porque o 13º mês é um acerto de contas (baseado no facto de recebermos ao mês e nem todos os meses terem o mesmo número de dias de trabalho). E claro que também há quem diga que o nosso rendimento anual é dividido por 14 e não por 12 tornando-se assim mais baixo do que seria se fosse à partida dividido por 12. E claro que, não havendo subsídios, os salários deveriam subir. Mas isso são outros quinhentos. Voltando à medida, não me chocando na sua essência, choca-me que não seja igual para todos. Claro que o estado apenas pode cortar aos funcionários públicos. Mas, e para sermos justos, então porque não criar um subsídio que corresponda ao mesmo corte para os privados? Não vivemos todos no mesmo país? Não passamos todos pela mesma crise? Não temos todos que contribuir para a sua solução? O que vai acontecer é que os privados vão deixar também de pagar os subsídios e nem os funcionários nem o estado os vão receber.
Quanto à meia-hora (que supostamente compensaria os funcionários públicos de os privados continuarem a receber subsídio - really?) o que é que ela vai resolver? Claro que ninguém se importa de trabalhar mais meia-hora. Não é pelos trinta minutos. Até porque muitos de nós trabalhamos muito mais do que mais meia hora por dia. E vou abrir aqui um parentesis para dizer que isto é outra ideia errada em Portugal, a de que quem trabalha muito, e fica para além das horas estipuladas, é porque e quem trabalha bem. Quando a verdade é que se formos eficientes e o trabalho estiver bem distribuído (i.e., se houver o número de trabalhadores necessários) as oito horas diárias de trabalho chegam. O problema é que na maior parte das vezes ou perdemos tempo em coisas desnecessárias (reuniões que duram horas quando deveriam durar minutos, cafézinhos, cigarrinhos, conversas, pausas a meio da manhã e da tarde que se prolongam) ou não há trabalhadores suficientes. E, voltando à medida, é também por isto (e não por ter de trabalhar mais meia hora) que ela me choca. Porque, muitos trabalhadores a fazerem mais meia hora, significa que a entidade patronal não vai precisar de contratar mais pessoas (16 pessoas a fazerem mais meia hora cada são mais 8h de trabalho diárias - o equivalente a um trabalhador), o que automaticamente a pessoas que vão ficar no desemprego quando na verdade eram necessárias a trabalhar. E, além de tudo aquilo que referi, a meia hora mais significa um retrocesso enorme nas lutas históricas dos trabalhadores pela jornada de 8h de trabalho. E a mim deixa-me triste ver que anos e anos de luta são agora assim esquecidos e que a maior parte das pessoas aceita isto de bom grado e se resigna sem se questionar e sem pensar em todas as consequências que daí podem advir.
Estas medidas vão além daquilo que foi estipulado no memorando da troika. E é isso que assusta muitas pessoas. Porque o memorando da troika impunha austeridade mas deixava espaço para que a economia, ainda que lentamente, pudesse continuar a crescer. Mas agora isso não vai acontecer. Porque as pessoas vão retrair o seu consumo acima daquilo que vão perder.
E, além de tudo isto, cortes na saúde, cortes da educação, subida do IVA na restauração (=desemprego). Mas, ao mesmo tempo, financiamento pelo estado de colégios privados, subsídios de arrendamento para deputados que até têm casa na grande Lisboa e outras tantas coisas ridículas que podem ler nos jornais diariamente.
Tenho lido por aí que as pessoas se queixam muito. Talvez seja verdade em alguns casos. Mas noutros casos as pessoas não se queixam, refilam, protestam, indignam-se porque percebem que não é este o caminho. E a mim não me choca que as pessoas refilem. Claro que é verdade que temos que trabalhar. Que em muitos casos somos pouco produtivos (e somos sobretudo se virmos o número real de horas que se trabalha). Claro que a solução não é pura e simplesmente recusarmo-nos a trabalhar e a pagar como está a fazer a população da Grécia. Mas também não está de certeza em aceitarmos tudo caladinhos (e aqui reside grande parte do problema - durante anos e anos e anos aceitámos sempre tudo calados e sem nos apercebermos) e resignarmo-nos que como estamos em crise então temos de sofrer este tipo de medidas.
Mas não temos. E não temos porque estas não são as medidas correctas. Estas medidas vão destruir a economia, provocar falências, causar mais desemprego.
E apenas mais uma coisa: a culpa de toda esta crise não é (apenas) do Sócrates. Antes de mais porque a crise é mundial. Claro que ele fez muita coisa mal, tem muitas culpas no cartório, mas todos os outros que vieram antes dele também têm culpa. Arrisco dizer que esta crise vem de há muito, muito, muito tempo. Talvez do tempo dos descobrimentos. Talvez muito antes. Porque, afinal, já no tempo dos Romanos se dizia que "lá para os lados da Ibéria há um povo que não se governa nem se deixa governar". E pelos vistos, passado tanto tempo, continuamos na mesma.
P.S.: tendo dúvidas sobre o que eu digo aqui vejam programas políticos onde todos os intervenientes, mesmo os que são do PSD, estão contra estas medidas e vejam as razões que eles apontam.E já agora vão a este texto e leiam o comentário da Alexandra.
Miss G I love you ;) que alívio constatar que há mentes brilhantes na blogosfera! concordo com tudo e subscrevo!
ResponderEliminarSalto para a lua,
ResponderEliminarLol!
Não me acho uma mente brilhante. Mas não entendo como é que as pessoas não percebem que estas medidas são piores do que a própria crise. :)
Cheguei aqui através do comentário que deixou no blog de sua santidade Kitty Fane onde pedinchava que ela viesse ler o seu post e até gostei do que li, concordo com as suas ideias gerais.
ResponderEliminarMas pergunto: a Miss G declara a sua atividade como vendedora de bijuterias? Espero que sim.
Anónimo,
ResponderEliminar1º: não gosto da forma como se refere à Kitty Fane e estive vai não vai para publicar o seu comentário.
2º: não lhe pedinchei para vir ler o texto, disse que talvez ela gostasse e até lhe disse que ela não precisava de publicar o comentário.
3º: o anónimo pede factura cada vez que bebe um café, uma água ou come uma torrada ou de cada vez que chama um canalizador ou vai à oficina com o carro? É que essas coisas são mais importantes do que a minha venda de bijuterias e é disso que falo quando me refiro a economia paralela. Mas a resposta à sua pergunta é que tenho actividade aberta nas finanças, e oportunamente irei acrescentar a actividade das bijuterias, até porque não é a única actividade independente que exerço e as outras declaro-as todas. Não estou com isto a dizer-lhe, atenção, que não tenha legitimidade em perguntar porque fui eu própria quem puxou o assunto.
Eu só não o critico tanto, porque a Troika decidiu o futuro de Portugal. PSD, PS, CDS, whatever... são meros fantoches.
ResponderEliminarS*zinha,
ResponderEliminarMas estas medidas não são bem as medidas da troika. E é por isso que o critico tanto. Porque ele vai além e não percebe que pode arrasar a economia.
Beijinhos
Um esclarecimento : este governo vai para além da troika pois esta mesmo, para emprestarem disse , terás de ter défice x, entre outras coisas...e depois o governo pensou e viu que com o que a troika sugeria que se fizesse o défice seria superior a x logo, algo mais teria de se fazer. Quanto a reduzir o consumo interno por via da diminuiçao de capital a circular internamente, isso leva à morte de quem produz para o mercado interno e motiva a que se passe a exportar ou a reconverter o seu negocio para a exportação.Obviamente não será tão linear, e será tão simbólico como por despesas de iva no irs.
ResponderEliminarUm aviso à navegação: o próximo passo são os despedimentos na função pública, ainda que diluidos na bolsa de mobilidade, pois se bem repararam o último mês fez -se a cama( diminuição do valor a receber na tal bolsa, diminuição do tempo na mesmo e condições para deixar de lá estar, bem como nos privados diminuição dos valores de indemnizações e tempos e limites a receber por via do subsidio de desemprego) a par da Grécia que pôs nesta bolsa já 30000 funcionários públicos com o aviso de que após um ano na bolsa terão de ir para a rua; agora é começar a despedir pessoas para compensar as torneiras( buracos financeiros) que fluem mais do que os cortes que lhe fazem e que igualmente demoram a minguar depois dos cortes.
Só para efeitos de contexto, os privados quando começam a ter poucos lucros, ou mesmo prejuizo não reduzem salários para evitar despedir, eles despedem logo, pois o objectivo deles é o lucro, já o publico reduz até onde pode dividindo por todos os pecados de alguns, mas isso só até certo ponto, depois segue o mesmo caminho dos privados. A razão é de justiça, pois compreendemos cortes para salvar alguns, mas somente os que produzem, dificilmente consegues convencer a salvar os que nada fazem na função pública, até porque depois os mais qualificados começam a sair e assim a teia da estrutura pública fica com nada ou com os piores.
P.S. -sou empregado de empresa pública que dá lucro e vou ficar sem os 2 subsidios.
Compreendo o caminho, não gosto mas aceito...mas sei que daqui a 6 meses ou antes começaram os despedimentos na função pública.
Anónimo,
ResponderEliminarA troika falhou nas contas? É que é isso que interpreto do seu comentário. E será que para ir para além da troika não se podia cortar noutros sítios? O próprio PPC disse na campanha que não olhava para os portugueses que recebiam 1000€ como o alvo para resolver a crise. E o nosso principal problema não é apenas o défice mas sobretudo a dívida externa e essa foi em muito feita pelos privados.
Tem razão quanto aos despedimentos na função pública. Ainda ontem o ministro Vítor Gaspar o disse e hoje li no Diário de Notícias sobre o assunto.
Posso pedir-lhe que me explique melhor uma parte do seu comentário?
"Quanto a reduzir o consumo interno por via da diminuiçao de capital a circular internamente, isso leva à morte de quem produz para o mercado interno e motiva a que se passe a exportar ou a reconverter o seu negocio para a exportação.Obviamente não será tão linear, e será tão simbólico como por despesas de iva no irs."
Não sei se percebi o que queria dizer.
Obrigada.
Cumprimentos
A troika não falhou nas contas...o país é que escondeu as contas certas, daí as surpresas. A questão de cortar ali ou acolá advém do tempo que temos para pagar...que é pouco e o que produz efeitos já são estas, o corte de despesa demora muito mais a ter resultados ( ainda que cortar nos subsidios seja corte de despesa). Em relação à divida externa ela é maioritarimente dos bancos, que para emprestarem às empresas e particulares iam lá foram buscar dinheiro. Agora a nossa economia para crescer precisa de dinheiro e os bancos não o tem.
ResponderEliminarEm termos simples a economia cresce com oferta e procura,criação de riqueza, lucro, circulação de capital, ora tirando a procura ( por via de redução de vencimentos, e poupança, empobrecimento do mercado interno) as empresas portuguesas e isso inclui tudo, desde o industrial ao café do Zé, veem que o seu produto, serviço tem menos saida e logo ficam com menos lucro, e ai quem se safa é quem se direciona para onde ha dinheiro, ou seja lá para fora, levando a passar a exportar. O senão disto é que o café do ze e outros que vivem do mercado interno, e cujos serviços ou produtos não podem ser vendidos no estrangeiro, vão à falência, daí a taxa de desemprego crescer nos proximos tempos de 12,1 para 14 % e de o consumo interno reduzir para 4,8 % o que é muito.
Daí esta ansia por por todos a exportar, pois tendo em conta que um pais da nossa dimensão deveria exportar 70 a 80 % do seu pib, o nosso só o faz em 30 %.
Ainda uma achega, a tal reconversão para internacionalizar ou mesmo reconverter produtos para vender lá fora, requer investimento e cá ninguém está a emprestar a ninguém, daí o governo estar a apertar com os bancos para que aceitem o dinheiro da troika para emprestar à economia, sendo que os mesmos bancos tem imenso credito malparado ( particulares que nao pagam por falta de dinheiro, o estado que não paga porque não tem)
Quanto a conversa de politicos antes e depois de eleições...isso é conversa de vendedor de banha.
Cumprimentos
Adorei!
ResponderEliminarAnónimo,
ResponderEliminarDesculpe mas eu acho que não me expliquei bem. É que tudo aquilo que me explicou já eu sabia (e penso que isso se percebe pela leitura atenta do texto - recessão na economia gera menos procura e consequentes falências e desempregos).Ainda assim agradeço-lhe por ter sido ainda mais pormenorizado do que eu que achei que já estava a escrever muito e deixei algumas coisas por explorar. A minha dúvida concreta (e mea culpa, que estava com pressa e transcrevi o parágrafo todo e não apepnas a frase) prendia-se com uma frase apenas: "Obviamente não será tão linear, e será tão simbólico como por despesas de iva no irs. ". E, agora que já não tenho pressa, explico ainda mais concretamente: estava a referir-se ao que eu disse para contornar a econonomia paralela? É que se estava eu sei que sim, que aquilo que disse era simbólico, e é apenas uma forma de tentar abordar o assunto. Não sou política logo não tenho medidas concretas. O que acho é que a economia paralela é um dos grandes motivos de estarmos assim. Mas não concordo é consigo quando diz que estas medidas são as que produzem resultados mais rápidos. Então cortar nos ordenados dos gestores públicos e extinguir empresas do estado que estão a mais não teria o mesmo efeito sem retrair o consumo? É que esse dinheiro vem do mesmo sítio. Adicionalmente, ainda que estas medidas fossem as que produzem resultados mais rápidos, o que é que queremos afinal, curar o problema ou mostrar que está curado mas depois saber que ele vai piorar? Não seria melhor tentar renogociar então? Sobretudo porque estas medidas vão trazer greves que nós sabemos serem arrasadoras para a economia.
Cumprimentos
Quando falava do resultado simbólico do minguar do mercado interno e assim ter o efeito de potenciar exportações, referia-me ao facto de que isso não terá uma relação directa, pois quem perde emprego num café ou numa empresa não equaciona logo em 3 tempos criar uma empresa para exportar, e mesmo que assim fosse seria um processo muito moroso.
ResponderEliminarA questão da economia paralela, é pertinente, mas o seu sentido será de agudizar mais com o apertar de vendas na restauração e outros negócios familiares...sou da opinião de que estes serão os primeiros a cair, pois mesmo que passem para economia paralela, mesmo assim será muito dificil sobreviverem, pois o consumo vai diminuir imenso.
A quanto a cortar em dirigentes públicos, já o estão a fazer, mas o seu resultado será marginal. O corte em empresas que estão a mais ou que dão prejuizo, não seria o ideal pelas seguintes razões : ao fechar empresas de transportes com dividas, teria custos com indemnizações de pessoal, dificuldade em vender estruturas, para além de que o resultado da venda seria sempre para pagar as dividas primeiro, assim o Estado prefere optimiza-las, restruturando-as, despensando pessoal e depois privatizar, ficando depois os privados com as dividas, pois de outro modo não serão privatizaveis.
Este programa da troika com os valores de défice que pretendem impor e com o dinheiro que deram é impossivel de cumprir nos prazos pedidos, sabemos todos...os gregos foram os primeiros a perceber...o que percebo disto é que teremos ainda assim de ser o melhor aluno, para beneficiar das melhores taxas quando fomos ao mercado novamente, e quando possivelmente recebermos outro valor maior...pois agora que a Grécia admitiu derrota, saberá que quando o seu programa acabar terá de pagar taxas altas pois não cumpriu metas e ainda assim tiveram de lhe perdoar dividas. É uma questão de ganharmos respeito e de os nossos credores acharem que somos de confiança. Quanto a greves é inevitável e terão custos...mas é o preço da democracia.
Renegociar a divida antes de termos tentado não inspira confiança e faz adivinhar taxas altissimas quando formos ao mercado ou quando nos emprestarem mais dinheiro.
Além destes efeitos perniciosos, estamos também expectantes que a comunidade europeia se una de verdade, pois só partilhando os maus momentos, poderão beneficiar dos bons...só que isso está a demorar muito, pois há interesses dos países credores que querem ver o retorno dos seus emprestimos e do outro lado os que sob a faca ao estomago querem ver aliviados os seus compromissos financeiros .
Um aparte, á bocado quando falava de despedimentos na função pública, referia-me exactamente aos sectores que deram buracos, que são os dos transportes ( previsões dão 5000 na rua), e o despedimento encapotado de professores, ao não darem lugares para os mesmo acederem, ainda que em condições precárias, noutros sectores defecitários como a saude, é impossivel despedir, mas o corte segundo intenções será nos valores das horas extra dos médicos e no caso dos enfermeiros, na redução de folgas por trabalho em extra, já que estes últimos já há algum tempo não recebiam dinheiro, mas sim folgas compensadas.
Soluções diferentes tendo em conta esta conjuntura, e premissa de tempo ? seriam dificeis de implementar e de resultados demorados.
Cumprimentos
Anónimo,
ResponderEliminarQuando falava em extinguir empresas públicas que não fazem falta não falava obviamente em empresas de transportes. Mas ambos sabemos que há dezenas de outras empresas e organismos e institutos que não servem para nada e podiam ser extinguidos/fundidos com outros. E a quantos funcionários públicos é preciso cortar subsídios para chegar ao ordenado anual de um gestor público? Não faz sentido. E não nos podemos esquecer que, mesmo com grandes cortes, esses ditos gestores continuavam com grande poder de compra. O que significa que não ia haver um retrocesso tão grande na economia.
Percebe o que quero dizer?
É que se depois dessas medidas, que também davam lucro imediato, fosse necessário virem aos mais pequenos então tudo bem. Mas até aí e enquanto eu continuar a saber que são financiadas escolas privadas, a cp compra carros de luxo para os gestrores e há deputados com casa na grande Lisboa a terem subsídio de alimentação vou achar sempre que não está a cortar onde se devia.
E então aquilo que eu disse no outro comentário é o que considera melhor? Medidas que aparentemente melhoram a coisa para depois a aniquilarem de vez? E por coisa entenda-se a economia. É que a grande maioria dos comentadores, mesmo os que afirmam ter votado PSD, dizem que estas medidas apenas vão destruir o que resta da nossa economia. O que interessa sermos bons alunos e passarmos no teste da troika?
Gosto desta discussão saudável mas ainda não me convenceu.
Cumprimentos
Eu percebo a dúvida, mas quando fala nesses casos de desvio, ou de dirigentes com salários altos, acredite que a limitação do número de administradores e de limitação dos seus vencimentos já começou...limitando administrações a 3 no máximo e indexando os seus salários ao do Presidente da República...o meu argumento é a ordem de grandeza, pois esses gastos são marginais, ou seja o custo de quem ganha 400 mil euros anos de o baixar para 100 mil euros, sendo 1 ou 2 administradores, será sempre menor do que o corte dos subsidios nos 15000 funcionários que ele administra...no entanto trará uma imagem de justiça e equilibrio de sacrificios, mas a nivel de receitas só o segundo o trará, pois por inerência o rácio dirigente para dirigidos poderá ser de 1/15000 ou mais.
ResponderEliminarQuanto a destruir a economia, eu diria que o que destroi mais é o sector financeiro, com especulações e outros efeitos, e só se consegue pagar contas aumentando a austeridade, que ataca a economia...melhor explicado, estas medidas se nada mais fizerem do que dar uma boa imagem, já em si poupará dinheiro na volta aos mercados, mas creio que diminuirmos o braço onde o Estado toca, e onde assiste, será igualmente um ganho enorme.
Aceitar as medidas de animo leve não é também o pedido, até porque as greves e a perturbação social é um óptimo factor de pressão a uma França ou Alemanha, para que eles tomem a iniciativa de renegociar a divida, pois se formos nós, o preço será mais alto. Em muito assemelha-se a ver quem quebra primeiro no bluff.
A ideia não é convencer...talvez dar outra luz.
Cumprimentos
Anónimo,
ResponderEliminarConvencer foi um verbo mal escolhido. Dar outra luz claro que sim, mas tal como lhe disse, muito daquilo que escreveu eu também sei, por via de muitas leituras, e ainda assim não acho que seja assim que lá vamos. Nem eu nem muitas pessoas. E não falo de pessoas como nós mas sim de economistas, fiscalistas, polítologos. e a questão é que estas medidas fazem mais do que dar uma boa imagem: levam a economia a entrar em recessão. Mas não vamos mais longe: a Europa tinha visto com bons olhos as medidas do PEC IV que o PPC recusou por achar que eram sacrifícios demais. Agora vem pedir sacrifícios maiores. E eu questiono-me: será que os outros eram suficientes? E porque é que ele o fez? Desejo de poder?
Até aqui e de reparar só o BE e o PCP é que pediam a renegociação e diziam que a austeridade destruía a economia. Mas desde quinta-feira que isso é unanime a todos os quadrantes.
Percebo a sua ideia quanto às greves mas não sou totalmente apologista pelos prejuízos que trazem. Quando a manifestações pacíficas sou totalmente a favor.
Cumprimentos